quinta-feira, 3 de março de 2011

Imaginários 3



Achar um espaço ao sol, em qualquer nicho de atividade, é coisa complicada. Piora quando o referido nicho é uma, digamos, atividade artística. Se você que está lendo isso e tem pretensões de escrever O Grande Romance depois da faculdade ou quando o trabalho der um tempo para sua mente brilhante entrar no ritmo (o que, sinto dizer, só vai acontecer quando for um aposentado, desempregado ou escrever obras primas em trinta dias de férias), com certeza já devorou um sem número de dicas de escritores, processos criativos, teorias da Literatura e, como aquele brinquedo favorito, desconstruiu textos dos autores que gosta para entender como funcionam. (Caso diga que não fez/faz nada disso você não está sendo muito sincero ou não se esforça muito, certo?). Espremido entre coisas como “saia e veja as pessoas”, “não mande seu original sem ser solicitado” e “gaste seu dinheiro com cerveja” encontramos com freqüência um “publique em antologias”.

– Hã? Como é? – eu sempre resmungava, surpreso, quando esbarrava como algo do tipo. – E como vou encontrar antologias, senhor sabichão?

Digamos que talvez eu não estivesse procurando nos lugares certos. Mais ou menos um ano atrás, enquanto singrava alegremente os mares do fandom brasileiro, esbarrei com dois livrinhos com o logotipo de um dragão na capa. Tratava-se dos dois primeiros volumes da coleção Imaginários, da Editora Draco, com uma lista de nomes que, se não são famosos nos círculos da literatura do cotidiano (termo cunhado pelo Eric Novello e que me aproprio aqui), tem seu peso na Ficção Especulativa brazuca (e portuga). O objetivo do editor Erick Santos era priorizar a literatura produzida aqui, apostando na qualidade dos escritores brasileiros, que em seus grandes momentos não ficam atrás dos estrangeiros.

Um ano depois, a idéia da editora tem  dado resultados. O dragão está soprando novos títulos com espantosa velocidade, visando o público além do tal fandom. Em meio a tantos livros já lançados e outros tantos chegando – que inclusive já falamos aqui no Coelho – um é particularmente especial para este que vos tecla: o terceiro volume da coleção Imaginários. Pode adivinhar por quê? Aí vai uma pista, escondida nos contos que compõem o volume. As sinopses foram escritas por seus autores a pedido de Douglas MCT:

BONIFRATE é uma singela homenagem a Pinóquio, do Collodi.
Concebi a trama usando alguns elementos steampunk e de Fantasia, com um alto grau de estranheza embutidos aqui e ali. A história, por mais que tenha meu estilo, é uma experimentação proposital de narrativa e condução de plot. Para o clima, me inspirei em alguns conceitos de Matrix e, para elaborar certas cenas e situações, busquei bases em Watchmen. Há ali a essência do Grande Irmão, construtos com coração a vapor, espíritos e uma força maior — e talvez mecânica — conduzindo as peças.

É uma ficção alternativa, que brinca com as incógnitas e tenta fazer o leitor se perder em algumas esquinas, num lugar não definido. A ideia ao escrever Bonifrate, era deixar a imaginação de quem lê complementar os espaços vagos de propósito no texto, para chegar ao seu desfecho próprio, único. Quero que essa leitura seja uma experiência para o leitor, como foi para mim ao escrevê-la.


A TORRE DAS ALMAS | Eduardo Spohr
No universo de A Batalha do Apocalipse, um grupo de anjos de Gabriel sai em missão e descobre pistas do que pode ser uma conspiração ao investigar na Terra aquilo que parece ser um simples caso de espírito aprisionado.

BREVE RELATO DA ASCENSÃO DO PAPA ALEXANDRE IX | Marcelo Assami
Monstros são caçados perto do Vaticano, uma família brasileira decide eleger um novo Papa e Gaetano Casanova escreve novas memórias.

AS NOIVAS BRANCAS | Rober Pinheiro
É o segundo conto de Ficção Científica que escrevi, e narra as desventuras bem o estilo ao infinito e além de uma personagem conhecida do nosso folclore, porém deslocada de seu contexto local e inserida num ambiente totalmente diferente.

DIES IRAE | Lidia Zuin
Pelas ruas de uma metrópole, sobrevive a pútrida e degenerada figura de uma hacker engolida por substâncias narcóticas. Consumida por seu comportamento junkie, Lynx vive sob condições precárias e sob a ameaça de ser morta por um grupo de jovens violentos, os rivetheads. Dies Irae é um conto cyberpunk que viaja por tribos urbanas e arquétipos de um futuro perturbado por gangues, megacorporações e por uma incrível e insensata sensação de falta de limites.

VIDA E MORTE DO ÚLTIMO ASTRO PORNÔ DA TERRA | Marcelo Galvão
Em um mundo no qual humanos perderam seus empregos para robôs, um ex-ator pornô tenta recuperar seus dias de glória a qualquer preço.

CORRE, JOÃO, CORRE | Cirilo Lemos
João é um fracassado. Marido medíocre, pai ausente e carente de senso prático, tudo o que ele mais deseja na vida é ser um homem melhor. Quando estranhos vultos vêm atrás de seu filho, o que ele pode fazer além de correr?

UMA SEGUNDA OPINIÃO | Fernando Santos de Oliveira
Uma garota que quer ser popular e chamar a atenção do menino que gosta, age sob os conselhos de alguém terrível e pode se tornar o que mais odeia.

MARIA E A FADA | Ana Cristina Rodrigues
É uma fantasia histórica passada no século XV, que trata da sucessão do ducado da Borgonha e da lenda da Melusina.

O PRIMEIRO CONTACTO | Fábio Fernandes
É uma homenagem-sátira à space-opera, escrita à maneira de um de seus representantes máximos, Edmond Hamilton. Na verdade, é uma espécie de transição do steampunk para a space opera, pois misturo personagens já usados em histórias steamers com personalidades da vida real para descrever como poderia ser um contato com alienígenas nos anos 1920. O conto tem de tudo um pouco: velozes espaçonaves, bravos soldados do espaço, malignos seres de outros mundos e um final-surpresa, claro.

“Publique em antologias”. Finalmente entendi.

Imaginários 3 pode ser encontrado aqui.

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