quinta-feira, 31 de março de 2011

14 Balas para Tibor Moricz

Filho de húngaros, Tibor Moricz é um paulistano nascido em 1959. Publicitário e escritor, publicou Síndrome de Cérbero (2007) e Fome (2008). É um dos organizadores dos dois primeiros volumes da coleção Imaginários e capitão do bem sucedido blog internacional de entrevistas ficcionais From Bar to Bar. Premiado em concursos literários, tem contos publicados em revistas virtuais e em papel. Foto: Hugo Vera.
     
     Prestes a lançar o romance O Peregrino- Em Busca das Crianças Perdidas, o high plains drifter Tibor Moricz aceitou baixar o Colt e responder algumas perguntas sob o sol do meio dia. 
      
     Vamos lá, então. 

     Cilindroide: Você já disse antes que seu amor pelos livros se deve em grande parte à sua mãe, grande leitora. É possível ter uma relação forte com a Literatura sem necessariamente se arriscar a escrever? Por que você se arrisca?

Tibor Moricz: Minha mãe foi a principal responsável por ter me feito gostar dos livros. Foi com ela que fiz meus primeiros contatos com Agatha Christie, Rex Stout, Patrícia Highsmith, Dashiel Hammet, Raymond Chandler, George Simenon e Erle Stanley Gardner. Fã que era do gênero policial é normal que me fizesse um fã também. Seguiram-se Iam Fleming e John Le Carré em livros de espionagem e todos os grandes em Ficção Científica. Mas minha relação com a literatura, apesar disso, nunca foi tão forte. Sou sazonal, às vezes mergulhando em leituras, às vezes abandonado-as por longos períodos. Fico três, quatro, cinco meses sem tocar num único livro, sem constrangimentos nem arrependimentos. Estendo isso como uma espécie de afastamento terapêutico. Ser escritor é uma consequência advinda do gosto da leitura com um talento natural, tão necessário para escrever (não me venham com as cantilenas de que basta aprender técnica literária para qualquer um virar escritor. Isso é deslavada mentira). Arrisco-me a escrever porque sou bom nisso. Se não fosse, com o bom senso que julgo possuir, estaria fazendo qualquer outra coisa.

Cilindroide: Qual é o seu ritmo médio de produção, se podemos dizer assim? Há diferenças na hora de se organizar para escrever um conto ou um romance?

Tibor Moricz: Há alguns anos, quando iniciei, eu era mais disciplinado do que agora. Escrevia todos os dias, regularmente. Hoje entendo que escrever é, sobretudo, um ato de prazer e como tal, deve ser vivenciado sem que se transforme numa obrigação. Assim, escrevo quando me dá na bola, quando me dá coceira, ou quando surge (às vezes nem assim) uma grande ideia. Escrever um conto ou escrever um romance não altera minha rotina organizacional. Ambos têm linguagens e abordagens diferenciadas, mas nada que me obrigue a elaborados exercícios mentais. Existem compartimentos em meu cérebro voltados para cada gênero, para cada extensão. Trata-se de abrir a porta certa na hora certa.
                                                                         
     Cilindroide: Falando de organização, entremos na questão dos rótulos, definições e afins. Você enxerga algum tipo de fronteira entre a Literatura de Gênero e o chamado Mainstream, além das alegadas preocupações (ou falta dela) com a Forma?

Tibor Moricz: Além do fato de a literatura de gênero (e aqui me refiro especificamente à FC) ser essencialmente especulativa e a literatura mainstream ser essencialmente cotidiana, nenhuma diferença além da preocupação com a forma. Ambas são linguagem.

Cilindroide: Como conciliar Forma e Gênero?

Tibor Moricz: Não vejo nenhuma dissociação entre eles. Existem escritores diferentes, com capacidades diferentes, com interesses diferentes, com talentos diferenciados. Escrever é, acima de tudo, fazer-se entender. Para isso é necessário que se atente pela norma culta, que conheça técnicas literárias (e as utilize com competência). Quem gosta de vomitar o texto no papel (e temos muitos fazendo isso) sem outra preocupação senão escrever uma história mirabolante, não é escritor. É nada.


Cilindroide: Tibor Moricz é um autor de Gênero?

      Tibor Moricz: Tibor Moricz é um autor extragêneros.

Cilindroide: Existe espaço para experimentalismos – e não me refiro apenas à linguagem, mas também a estruturas diferentes – na Literatura Especulativa nacional?

Tibor Moricz: Existe espaço para tudo, desde que existam leitores para tudo. Eu não gosto, já que entendo a literatura de gênero como uma literatura popular, para ser lida por muitos. Experimentalismos herméticos afastam esses leitores e descaracterizam a mais básica essência do gênero.

Cilindroide: Entrando no assunto de mercado... Não sei se é só comigo, mas muitos posts no É só outro blogue me passam a impressão de que você ainda está desconfiado com o boom da Ficção Especulativa por estas bandas. O que há para comemorar e o que há para temer, em sua opinião?

Tibor Moricz: Devemos comemorar o boom e devemos temê-lo. Por um lado temos um alargamento de publicações nunca antes visto, por outro uma fronteira não muito distante que pode brecar essa expansão. Refiro-me à fronteira formada por leitores reais. Uma hora atingiremos algum tipo de saturação, quando as publicações chegarão ao seu limite de mercado. Para evitar isso precisaríamos ultrapassar essa fronteira, buscando leitores potenciais para além dela. Com ações de marketing, com presença na mídia, com apoio de entidades e associações (tô viajando... rs), com o reconhecimento do establishment e com obras de reconhecida qualidade editorial. Há muita coisa sendo lançada que não ultrapassará a curva do rio.

Cilindroide: Como surgiu a ideia para suas entrevistas insólitas, De Bar em Bar? Por que uma versão em inglês? Tem sido difícil entrar em contato com os escritores estrangeiros?

Tibor Moricz: Nem sei dizer como surgiu a ideia de fazer as entrevistas ficcionais do De Bar em Bar. Juro que não lembro. Mas foi um sucesso tão grande que não havia como mantê-lo preso à nossa fronteira. Apesar das críticas recebidas por alguns que viam o formato como uma bobagem, essas entrevistas ganharam o mundo. Foi Adriano Fromer Piazzi que levantou a bola em estender o formato para autores internacionais ao oferecer Kim Newman. Eu soube na hora que se essa entrevista desse certo deveria continuar entrevistando autores consagrados lá de fora para não perder o bonde. Fazer contato com eles foi complicado no início, quando não me conheciam nem entendiam direito o que era esse negócio de From Bar to Bar. Hoje tenho fácil acesso a qualquer um. Muitos autores entrevistados oferecem o contato de outros, facilitando o meu trabalho.
  
Foto gentilmente surrupiada daqui. 


Cilindroide: Fale um pouco sobre seu novo romance, O Peregrino. O que os leitores podem esperar dele?

Tibor Moricz: Podem esperar, no mínimo, uma muito boa leitura. O Peregrino é um romance que nasceu para ser conto. A porta do compartimento que abri em meu cérebro foi a do conto. Entrei nele, vasculhei, peguei as ferramentas que necessitava e saí de lá com um romance nas mãos. Não me peça explicações porque nem eu as tenho... rs. Tentei criar um personagem com carisma, tentei escrever uma história page-turner, tentei ser elaborado na trama, tentei um desenvolvimento criativo, tentei completar todos os ciclos de maneira surpreendente e tenho certeza de que consegui tudo isso. Foi um livro que me deu imenso prazer em escrever e me provocou um período de depressão quando o terminei. Não queria terminá-lo. Mas quando vi que ele nunca acaba e nunca acabará, voltei a ficar feliz.

Cilindroide: Por que um western? Gosta do gênero? Assistiu algum enquanto escrevia?

Tibor Moricz: Quando comecei a escrever não tinha nada na mente senão ir colocando no papel as ideias como elas me surgiam. Só fui decidir pelo caminho do western mais tarde, quando a história chegou num ponto “X” que exigia uma definição de gênero. Então enfiei um Colt45 lá e toquei o bonde pra frente. (O último western legítimo que assisti foi Tombstone há uns 4 anos... oh, bem, assisti recentemente Jonah Hex, mas aí é uma fantasia, certo?).

     Cilindroide: Planeja se aventurar outra vez no universo d’O Peregrino? Steampunk e Weird West são gêneros em ascensão entre os leitores brasileiros...

Tibor Moricz: O Peregrino não admite novas aventuras e os leitores se darão conta disso quando o lerem. Mas não afasto a possibilidade de, futuramente, adentrar o terreno do western novamente.

 Cilindroide: O que podemos esperar de Tibor Moricz após O Peregrino?

 Tibor Moricz: Tenho três projetos em andamento. Um de Terror, um de Fantasia     Urbana e um de FC. Todos eles romances. O de FC sai primeiro, o de Fantasia Urbana logo em seguida (aqui me refiro a meses, quatro ou cinco, no máximo).

Cilindroide: Previsão para Brinquedos Mortais?

Tibor Moricz: Nem ideia. Mas acredito que entre junho e agosto. Está nas mãos da editora. O Erick sabe o que faz (e, principalmente, sabe onde lhe aperta o calo...rs).

Cilindroide: Conselho de Tibor Moricz para quem também se arrisca na escrita:

Tibor Moricz: Não se arrisque na escrita.

Cilindroide: Muito obrigado, Tibor. Que venha o Peregrino, então.

Tibor Moricz: Eu é que agradeço por essa entrevista. Se não gostar do livro, o Erick te devolve a grana (e um tiro de Colt45, também, de brinde)...rs.

Abaixo, o release oficial da Editora Draco:

O PEREGRINO - EM BUSCA DAS CRIANÇAS PERDIDAS


Não é a cara daquele sujeito que dirigiu Menina de Ouro, com a Hillary Swank?

O romance O Peregrino – Em busca das crianças perdidasde Tibor Moricz, fala de duelos heroicos, amizade e coragem. Fala também de cobiça, ódio e perseguição. Narra a jornada de um homem em busca de crianças perdidas, de pistas para esclarecer seu passado misterioso e de suas próprias e assustadoras verdades.
Para lá do Posto de trocas do Finnegan, para lá da Garganta do enlouquecido (muito cuidado aos que forem atravessá-la), existem três cidades. Em duas, Downtown e Middletown, os cidadãos vivem massacrados pelo jugo totalitário imposto por Uptown, a terceira delas.
De Uptown vêm abutres terríveis, delegados simbiontes mortíferos e fantásticos mecanismos cujas funções extrapolam a mais fértil imaginação.
Só uma coisa une todas as cidades: a crença na vinda de um homem, na vinda de um salvador. A crença na vinda do Peregrino.
Ambientado no meio oeste norte americano nos idos de 1870, este romance promete tudo, menos tédio. Com ritmo narrativo intenso e final surpreendente, O Peregrino tem tudo para ser um dos principais lançamentos do ano dentro da literatura de gênero nacional.

Você pode adquirir um exemplar aqui.

quarta-feira, 23 de março de 2011

Cyber Brasiliana: um jogo de Trindades




A busca pelo Sagrado e utilização do discurso mitológico como forma de interação com a realidade objetiva é característica do Homem desde que o mundo é mundo. Mesmo quando o pensamento lógico começa a ensaiar seus passos lá no século VI ou V a.C. e assume desabalada carreira a partir do século XVI, não se pode dizer que a humanidade tenha deixado de ser um rebanho de bois religiosos (sem juízo de valor aqui, por favor). A complexidade tecnológica, principalmente em tempos nos quais se houve demais falar em Singularidade e Pós-Humanidade, inevitavelmente traz à baila velhas questões que tanto ocuparam o pensamento de filósofos e sacerdotes: o que é o Homem? E o que é Deus?

Lançado em 2010 pela Tarja Editorial, Cyber Brasiliana, romance de Richard Diegues, é um passeio em alta velocidade por um futuro onde a tecnologia é a nova forma de conectar o homem ao Divino. Minha interpretação, claro, mas o viés está lá, entremeado com anti-heróis bons de tiro, garotas gostosas em motos envenenadas e vilões filhos da puta armados de alta tecnologia, quase saltando no rosto do leitor a cada parágrafo. Temos o Hipermundo, “um sistema baseado em uma super-rede de servidores, no qual as pessoas desfrutam de uma forma complexa de realidade aumentada, utilizando-a para trabalho, socialização, cultura e registro digital de todas as informações mundiais”. Essa realidade virtual possui seus próprios deuses, o 3Murti, poderosos softwares baseados na mitologia hindu, que mantém a ordem no espaço digital emulando as funções cósmicas das divindades nas quais foram baseados. Peguei-me pensando em vários momentos no decorrer da leitura sobre as diferenças entre estes deuses cibernéticos e os deuses no sentido estrito do conceito. São senhores de uma realidade onde vivem os homens, infinitamente mais poderosos que estes e responsáveis pela manutenção do status quo. No romance de Diegues, o Homem literalmente cria os Deuses e busca recriar a si próprio.

Cyber Brasiliana mostra como o presidente da poderosa corporação Sicilli e líder do Cartel tenta pôr em prática um plano para se apoderar do Hipermundo e, consequentemente, ter sob seu controle o mundo real. É engraçado ver como a Sicilli lembra um bocado companhias como o Google ou a Apple, comprando um monte de empresas que criam novas formas de utilização da Rede e incorporando-as a si, tudo sob uma bela máscara de sorriso. Serguey (Rajaram, não o Brin), o líder dos antagonistas, faz aqui o papel de Lúcifer ao desejar ele mesmo se tornar um Deus. Para impedi-lo temos um grupo formado por uma programadora chinesa grávida, um pistoleiro morto-vivo (calma, a explicação está lá) e um hacker muçulmano afastado da religião que imagino, não sei por quê, com a aparência do próprio autor. Há outros personagens, como 5.i-cent (cujo nome me quebrou a cabeça), mas acredito que a base seja esses três. Um jogo de Trindades.

Deixando o mundo virtual e sua linguagem complexa, temos o cenário geopolítico construído para a história. Aí eu discordo do prefácio da obra: um mundo tomado por guerras que fragmentam continentes inteiros, reconfiguram identidades nacionais mais profundamente que em séculos, invertem os pólos políticos do Norte para o Sul e subverte as relações familiares de modo a desagregar os laços interpessoais é um bocado distópico. Qual é a diferença entre o gado bovino e o gado humano, se ambos se mostram incapazes de transformar a realidade física por estar em permanente conexão com a realidade artificial? Não, não há utopia no cenário que Diegues desenha. Aos moldes de Admirável Mundo Novo, é um inferno limpo e organizado. Mas ainda um inferno. E convenhamos: assim é muito mais legal. Não há aventura na Perfeição. Aliás, o ser humano não combina com Perfeição, como a Matrix dos irmãos (irmão e irmã, agora) Wachowski descobriu empiricamente.

Resumindo: Cyber Brasiliana é divertido, fluido e me deixou pensando um bocado de coisas. Além de esfregar na minha cara que meu orgulho por ter instalado o Windows no meu computador sozinho é muito besta.

Você pode adquirir um exemplar e ler um trecho da obra clicando aqui. 

quinta-feira, 17 de março de 2011

10 Perguntas para José Roberto Vieira

     
José Roberto Vieira nasceu em 1982, na capital de São Paulo. Formado em Letras pela Universidade Mackenzie, atuou como pesquisador pelo SBPC e CNPQ. Atualmente é redator e revisor. Teve contos publicados na coletânea Anno Domini – Manuscritos Medievais (2008) Pacto de Monstros (2009). O Baronato de Shoah – A Canção do Silêncio é seu romance de estreia, uma emocionante aventura épica em um mundo fantástico e sombrio. Nele, passado, presente e futuro se encontram com a cultura pop numa mistura de referências a animações, quadrinhos, RPG e videogames. Considerado o primeiro romance nacional pensado na estética steampunk, o mundo de O Baronato de Shoah une seres mitológicos como medusas e titãs a grandes inventos tecnológicos.
        
      Nesta pequena entrevista, José Roberto Vieira fala de influências, sonho e adianta o título da sequência de O Baronato de Shoah.

     Cilindroide: Você já disse em outra ocasião que o RPG o livrou de algumas influências negativas. Além de salvar a sua vidaque papel estes jogos tiveram na formação de um José Roberto escritor?
          
José Roberto: O RPG é uma das minhas maiores influências, foi ele quem me levou a conhecer autores literários e a minha vontade de ser escritor veio daí. Quando comecei a jogar nunca aceitava o que os livros falavam totalmente, então adaptava várias coisas (todo mundo faz isso, não?) para o que eu queria. No fim acabava criando mundos novos, mas com interferência dos módulos básicos. Jogos como Dungeons & Dragons me fizeram ir procurar literatura medieval (e descobrir que ambos tinham pouco em comum…). Vampiro: a máscara me fez ir atrás da literatura de terror e por aí vai. Você pode querer ser um escritor com alguma base em RPG, mas não pode ficar só nisso.

Cilindroide: Livros podem salvar pessoas, então?

 Podem. Assim como o futebol, a dança, a música. Depende do caminho da sua vida e do que você quer fazer com ela.

Cilindroide: Fale um pouco sobre seus trabalhos anteriores ao Baronato de Shoah: A Canção do Silêncio.

José Roberto: Tenho dois trabalhos que considero mais relevantes para mim, além de contos publicados em antologias. Éride, um RPG no mundo contemporâneo onde os filhos dos deuses gregos combatem pelo domínio da eternidade; e Taenarum, um RPG de fantasia onde os elfos impuseram uma ditadura às demais raças e os anões são seus maiores inimigos.

Cilindroide: Contos e Romances exigem abordagens diferentes na hora de se organizar para escrever? Que imprevistos encontrou enquanto trabalhava no livro?

José Roberto: Sim. Ambos têm estruturas diferentes, o conto é algo mais centrado, em torno de um único tema. Já o romance pode ter várias ramificações e conflitos. Meu maior problema com o livro foi que algumas vezes eu perdia o foco, ou colocava personagens demais, deixando-os sem utilidade alguma. Mais tarde isso foi corrigido, a obra ficou mais centrada, com menos personagens, mas todos ganhando sua importância e história. Mesmo os vilões atraem sua simpatia, por que não são apenas os caras “malvados”, mas pessoas que acreditam no que fazem.

José Roberto e Erick Sama, editor da Draco, tentando fingir que não é
uma Barbie em cima de sua cabeça


Cilindroide: Temos um release aqui, mas queremos ouvir de você: o que os leitores podem esperar de O Baronato de Shoah?

José Roberto: Vocês podem esperar uma obra que foi feita com carinho, dedicação, esforço e sacrifício. Há um pedaço da minha alma neste livro. Este mundo ainda tem muito a oferecer e a saga da “Canção do Silêncio” é só uma parte dele. Juntos, eu espero que possamos desbravar cada cidade, cada reino e ilha de Nordara e além.

Cilindroide: Shoah, Kabalah, Nabiyim... Alguns termos utilizados no livro possuem uma sonoridade hebraica, digamos assim. Houve alguma influência da cultura judaica no desenvolvimento do universo onde se passa o romance?

José Roberto: Totalmente. Eu sonhei com o nome “Shoah” e só mais tarde descobri que ele realmente existia. Fui atrás da cultura hebraica por causa disso e me apaixonei logo de cara. Com o passar do tempo e muita pesquisa fui adaptando palavras e conceitos para o que eu queria. O Baronato de Shoah, a seu modo, é também uma homenagem a esta cultura tão estimulante.

Diren Grey, arte de Rod Reis


Cilindroide: Falando em influências. Como animações e games influenciaram o Baronato?

José Roberto: Animes como Steamboy, Last Exile, ou jogos como Final Fantasy (principalmente o 3/6) foram de grande influência para o Baronato, por isso no livro nós temos tantas referências a eles. Sempre que eu me encontrava desmotivado, procurava estas obras para inspiração. Não que eu quisesse copiá-los, mas queria extrair deles o conhecimento necessário para meu próprio mundo.

Cilindroide: O Baronato de Shoah é considerado por muita gente o primeiro romance steampunk nacional. Agora, José Roberto Vieira é uma referência para os steamers. O que acha disso?

José Roberto: Ainda fico surpreso com blogs e sites me chamando de “Senhor Vieira” ou algo parecido. E fico mais surpreso ainda quando pessoas de fora da internet descobrem a obra. Por exemplo, um dia desses eu estava na Livraria Cultura e vi um cliente e um vendedor consultando o livro no sistema! Foi maravilhoso, mas não me aproximei. Depois, escutei o vendedor dizendo que também estava esperando o livro, pois estava curioso sobre ele. Os steamers sempre me trataram muito bem e adotaram o Baronato e sua cultura. Sou muito grato a eles pela ajuda e incentivo que me deram desde o primeiro parágrafo. Se você prestar atenção, há homenagens ao Conselho Steampunk no Baronato de Shoah.



 Cilindroide: Podemos esperar outras histórias no universo de O Baronato de Shoah?
        
      José Roberto: Sim, eu já tenho alguns contos prontos neste universo, e estou rascunhando a continuação do Baronato de Shoah. Até agora não tenho muita coisa, mas adianto um spoiler: O Baronato de Shoah: A Máquina do Mundo.
     
Autografando o primeiro exemplar
       
     
      Cilindroide: O que mais vem por aí?

José Roberto: Eu quero viver disso, sabe? Quero criar os romances e Éride e Taenarum, trabalhar com estes mundos seria fantástico. Também quero que o Baronato cresça, que os brasileiros tenham um cenário grandioso para chamar de seu e ter orgulho de mostrar e divulgar. É o meu sonho.

Cilindroide: Agora o espaço é seu. Boca no trombone.

José Roberto: É hora de agir, pessoal. A Literatura Fantástica está dando seus passos, e os escritores brasileiros crescem em números. Vamos agir com profissionalismo, nos ajudar, criar eventos, ter esperança. Juntos podemos transformar o mercado.

Cilindroide: Obrigado, Senhor Vieira.

O Baronato de Shoah será lançado dia 03/04 às 15:00, na Friends Shop, loja oficial do Anime Friends. O local é o Bairro da Liberdade, na rua Conselheiro Furtado, numero 303 (perto da rua Santa Luzia e da Rua da Glória). Você também pode encontrar o livro no site da Editora Draco. 

Adquira o seu antes que o Senhor Vieira fuja
com todos eles




Super Mario Bros Versão Indie

Esse filminho aí embaixo foi feito por Joe Nicolosi e exibido no South by Southwest, um festival de cultura pop. Mostra os personagens da clássica série de games do Mario (como, que Mario?) envolvidos num drama indie onde não faltam citações a elementos dos jogos. Estão lá o castelo, o kart, as tartarugas Koopas, os cogumelos nos quais o encanador italiano é viciado, as estrelas de invencibilidade (aqui pílulas de ecstasy!)... Destaque para a clássica frase "The princess is in another castle", que aqueles cogumelinhos falavam depois que a gente penava para jogar o Bowser na lava; e para o Mario arrasado, chorando abraçado ao irmão Luigi e dizendo que está se sentindo tão pequeno... Muito melhor que o lendário e chatérrimo filme da sessão da tarde, onde o Yoshi era um velociraptor. 





quarta-feira, 9 de março de 2011

Mapa da História da Ficção Científica

Cheguei até este infográfico cthullhesco através de um tuíte do Octávio Aragão. Pensei em um monte de maneiras de imprimir essa imagem e colocar numa moldura, tão impressionado fiquei. A imagem está na página da Wired. Clique aqui para apreciar essa belezura em alta definição. Um desafio: tente ler todas as referências ali e encontrar as repetidas (é, eu fiz isso). Em tempo: o autor dessa belezura é Ward Shelley.



sexta-feira, 4 de março de 2011

A melhor versão do Homem-Aranha: Italian Spider-Man!

Não tem Brian Bendis ou Sstracacsczinsky que supere: o melhor Homem-Aranha é esse cara aí. Ou, pelo menos, o mais sem noção. Fanfarrão, fumante inveterado, machista convicto, todas as características que fazem o Italian Spider-Man passar bem longe de Peter Parker. Rola pela internet uns filminhos do personagem bigodudo, que de tão toscos se tornam verdadeiras pérolas.

O herói em momento de tensão: o vilão acaba de raptar a mocinha


Mesmo com o festival de baboseiras, o Italian Spider-Man arrebanhou uma multidão de fãs, entre eles o quadrinhista brasileiro Danilo Beyruth, autor do sensacional Bando de Dois. Ele chegou a fazer alguns desenhos do personagem, que você pode conferir aqui. Dizem que os responsáveis gostaram tanto dos desenhos que resolveram perguntar aos fãs se eles gostariam de ver uma HQ. Não sei se vai rolar, já que a empresa que gerenciava o Italian Spider-Man fechou as portas.

Italian Spider-Man surpreende o inimigo
Uma HQ daria certo?

Assista ao trailer e tire suas próprias condições.



Rispetta la donna!

quinta-feira, 3 de março de 2011

Hugo Weaving como Caveira Vermelha

Sei que em pouco tempo, quando o filme estrear, o planeta inteiro vai estar de saco cheio de imagens do Capitão América. Mas eu não podia deixar de registrar aqui a primeira imagem oficial do eterno Agente Smith, Hugo Weaving, caracterizado como o vilão nazista-que-nunca-morre Caveira Vermelha. Assim que vi, pensei que se tratasse de uma estatueta bem pintada, o que corrobora a opinião negativa de muitos que dizem que o Caveirão ficou fiel demais. Isso é ruim? Pode ser e pode não ser. Basta lembrar que Wolverine com aquela roupinha amarela ficaria parecendo um palhaço na telona, e que o traje do Batman do Nolan ainda não me convenceu.




Vale lembrar que o traje do Capitão América também passou por uma recauchutada para soar, digamos, menos bandeiroso. O visual foi inspirado no conservador Steve Rogers da série Os Supremos, de Mark Millar e Bryan Hitch. Convenhamos, ficou melhor. Veja aí embaixo.

O traje tradicional, num filme bem tosco de 1990

O traje da versão Ultimate. Vamos ver como funciona...



O Baronato de Shoah vem aí




           
O Baronato de Shoah – A Canção do Silêncio é o romance de estreia de José Roberto Vieira, uma emocionante aventura épica em um mundo fantástico e sombrio. Passado, presente e futuro se encontram com a cultura pop numa mistura de referências a animações, quadrinhos, RPG evideogames. Considerado o primeiro romance nacional pensado na estética steampunk, o mundo deO Baronato de Shoah une seres mitológicos como medusas e titãs a grandes inventos tecnológicos.

Desde o nascimento os Bnei Shoah são treinados para fazerem parte da Kabalah, a elite do exército do Quinto Império. Sacerdotes, Profetas, Guerreiros, Amaldiçoados, eles não conhecem outros caminhos, apenas a implacável luta pela manutenção da ordem estabelecida.

Depois de dois anos servindo o exército, Sehn Hadjakkis finalmente tem a chance de voltar para casa e cumprir uma promessa feita na infância: casar-se com seu primeiro e verdadeiro amor, Maya Hawthorn.
Entretanto, a revelação de um poderoso e surpreendente vilão põe Sehn perante um dilema: cumprir a promessa à amada ou rumar a um trágico confronto, sabendo que isso poderá destruir não só o que jurou amar e proteger, mas aquilo que aprendeu como a verdade até então.

Sobre o autor:
José Roberto Vieira
Nasceu em 1982, na capital de São Paulo. Formado em Letras pela Universidade Mackenzie, atuou como pesquisador pelo SBPC e CNPQ, atualmente é redator e revisor. Teve contos publicados na coletânea Anno Domini – Manuscritos Medievais (2008) e Pacto de Monstros (2009).BLOG www.baronatodeshoah.blogspot.com
                                                                                                    
O Baronato de Shoah – A Canção do Silêncio

Autor: José Roberto Vieira

Gênero: Literatura fantástica - romance
Formato: 14cm x 21cm
Páginas: 264 em preto e branco, papel pólen bold 90g
Capa: Cartão 250g, laminação fosca, com orelhas de 6cm
Preço de capa: R$ 46,90


EDITORA DRACO
Draco. Do latim, dragão.


A Editora Draco trabalha para fortalecer e patrocinar o imaginário brasileiro, tão nosso e único. Queremos publicar autores brasileiros, aliando design, ilustrações e tudo o que for possível para que nossos leitores sejam atraídos pela beleza das histórias e personagens que nossos livros trazem.

Com isso, esperamos que nossos leitores tenham acesso ao nosso maior tesouro: a literatura fantástica brasileira.


Assessoria de Imprensa: A/C Erick Santos e Karlo Gabriel – editoradraco@gmail.com    


Extraneus e Histórias Fantásticas

2010 está sendo um ano agitado para a Literatura Especulativa verde e amarela – talvez a mais subterrânea das nossas literaturas. Dia 20 de Novembro chegam duas séries produzidas pelo selo Estronho, as Coleções Extraneus e Histórias Fantásticas, organizados por M. D. Amado e Georgette Silen, respectivamente.




 COLEÇÃO EXTRANEUS



Volume 1 - Medieval Sci-FI 
“Sua proposta é unir contos em que os elementos medievais se misturem com os da ficção científica. Os autores tiveram total liberdade de criação, podendo fazer as misturas que quisessem entre esses dois temas. Foram utilizados como elementos: cavaleiros, dragões, viagens espaciais, viagens no tempo, alienígenas e outros.”
Prefácio de Richard Diegues.
Autores Convidados: Ana Cristina Rodrigues, Gianpaolo Celli, Leandro Reis, Leonardo Pezzella, Renato A. Azevedo, Rober Pinheiro, e Simone O. Marques.
Autores Selecionados: Cirilo S. Lemos, Cláudia Zippin Ferri, Davi M. Gonzales, Gadiego Silvestrini, Larissa Caruso, Rebis Kramris e Rudá Almeida.

  • Antologia de contos
  • 134 páginas
  • ISBN: 978-85-63586-08-7
Previsão de lançamento: 20 novembro de 2010
Dos três volumes planejados (Quase Inocentes Em Nome de Deus), participo do primeiro, Medieval Sci-Fi, com o conto Dez Lampejos do Muçulmano de Ferro. A mistura de FC com Idade Média atraiu minha atenção imediatamente, tanto pelo seu potencial de produzir coisas realmente doidas quanto pela dificuldade de extrair dela alguma coisa aproveitável. Desafio é uma coisa legal, certo? A primeira coisa que me veio à cabeça foi um filme que vi no SBT muuuuuito tempo atrás, sobre uma invasão alienígena em plena Europa Feudal. Nunca descobri nem o nome da pérola nem alguém que já a tenha visto, de modo que não posso dar certeza se não é fruto da minha imaginação.
A segunda coisa que me ocorreu foi: Peraí. O que exatamente se quer dizer com Medieval? O período histórico que vai até a tomada de Constantinopla? A Fantasia Heróica estilo Dungeons&Dragons, comumente chamada Fantasia Medieval? Confesso que torci pela primeira opção. E era ela, de fato, mas nada impedia que elementos fantásticos dessem o ar de sua mágica.
Comecei a trabalhar na idéia de uma Peste Negra que de alguma forma fosse uma arma biológica oriunda de uma fonte extra-medieval. Quebrei a cabeça por um bom tempo, na frente da folha em branco. Legal, como ia falar disso em 10.000 caracteres? E que tipo de história seria? Resolvi mais ou menos que seria do tipo agente secreto, com a verdadeira razão da viagem dos Polo para a corte de Kublai Khan, uma ameaça militar ao Ocidente etc. Mas seria necessário um grande malabarismo com datas. Além disso, não confio quando a ideia me ocorre muito rápido: se ela vem pra mim, vai pra outros também, que Musas Inspiradoras são vadias.
Resumindo a ópera: meu conto é uma mistura de Tony Stark com H. Ridder Haggard e Lovecraft, despretensioso e que foi bem divertido de escrever. É sobre um árabe que descobre uma estranha estátua, que pode expulsar os cruzados da Terra Santa bem antes do esperado. Muito poder militar nas mãos de Saladino, para desespero das potências européias. É uma pequena piadinha também com a querela atômica do Irã. Para contar a história, usei a estrutura que Bruce Sterling usou no conto 20 Evocações (que saiu na Terra Incognita) e que Rubem Fonseca usou em 74 Degraus. Consiste em pequenas divisões que sugerem ao leitor uma história bem maior do que é mostrada.

HISTÓRIAS FANTÁSTICAS
“O Fantástico está presente em todas as culturas e mitologias que cercam o ser humano, desde os primórdios. Crendices, lendas, tudo faz parte do processo de crescimento do homem, e de seu povo. É intrínseco, inegável e indissolúvel na formação de uma sociedade
Nada mais natural, portanto, que a Literatura Fantástica faça proveito dela, do imaginário popular, das lendas e superstições que nos acordam a noite, que nos transportam a outro lugar. Olhos brilham na escuridão, fadas voam com brilhos fosforescentes, curupiras assoviam, enquanto fantasmas povoam os quatro cantos, causando medo e tremor. Vampiros e bruxas, lobisomens e monstros, criaturas do imaginário coletivo serão os protagonistas de uma nova aventura. E estarão ao redor do leitor, que não terá como desviar o olhar.
Histórias Fantásticas é fruto da parceria entre a organizadora Georgette Silen. Irá contar com 21 contos selecionados no primeiro volume, que retratem toda a magia, a beleza, o fascínio e a diversidade do universo da Literatura Fantástica Brasileira. Os autores dessa série estão convidados a explorar todos os tipos possíveis de criaturas fantásticas, com temática livre dentro do gênero Fantástico, dando vida às letras do imaginário, transportando o leitor a universos e variadas dimensões.”

Também neste participo do Volume 1. Meu conto, Raparigas em Flor, é sobre as arapucas que os amigos volta e meia nos metem. O título é uma referência ao Proust.

Ambos os livros serão lançados na Jedicon, (dia 20 de Novembro, mas acho que eu já disse isso, né?). Como o de praxe nos eventos fora do Rio de Janeiro, é difícil que eu apareça por lá. Fisicamente, pois em espírito estarei lá. Se você for médium ou um Caça-Fantasmas, a gente se esbarra.