quinta-feira, 3 de março de 2011

O Pacto Imperial



O Brasil, país de proporções continentais, é constituído por regiões que pouco têm em comum além do idioma oficial e das instituições do Estado Federativo do qual fazem parte. Ao contrário da América Espanhola, que se fragmentou em diversos países após os processos de Independência da Espanha, a Colônia luso-americana permaneceu unida após a separação de Portugal. Como isso se deu? Como foi possível conciliar sob a égide de um único Estado interesses e costumes tão diversos?

Miriam Dolhnikoff analisa questões como essas em seu trabalho intituladoO Pacto Imperial: origens do Federalismo no Brasil do século XIX. Originalmente apresentado como tese de Doutorado na Universidade de São Paulo (USP), o trabalho discute a forma como, após a Independência, as elites buscaram assegurar uma participação mais ativa na construção do novo Estado, a fim de garantir a manutenção de seus próprios interesses e privilégios. Dolhnikoff menciona, como alternativas inseridas no cenário político da época, modelos como a República, Monarquia, Estado Unitário ou Federação. No choque entre estes projetos, que podemos simplificar aqui basicamente como uma disputa entre centralização e autonomia, saiu vencedor aquele que servia aos objetivos das elites provinciais, possibilitando-lhes a administração de suas próprias províncias e a chance de participação no governo central através dos representantes que elegiam para a Câmara dos Deputados: o federalismo.

Segundo a historiadora, a escolha pelo federalismo é uma “inapelável vocação americana”, embora haja diferenças patentes, reconhecidas até pelos pregadores do referido modelo, entre a forma brasileira e a norte-americana. Enquanto este último tomara os rumos republicano e democrático, o primeiro optava pela monarquia e começava a se estruturar de tal forma que apenas a elite dominante possuía representatividade. O federalismo desejado para o Estado Brasileiro devia ser “entendido como uma conjugação entre autonomia provincial e a participação das elites provinciais no governo central”.

Assim, o projeto de reforma constitucional que se segue após a abdicação de D. Pedro I, que se tornara a esta altura um obstáculo político para os setores dominantes, reconhece o Brasil como uma monarquia federativa, marcando assim a vitória definitiva do federalismo sobre as alternativas rivais. A autonomia conquistada pelas províncias ajudou a preservar unidos os territórios, já que os “grupos dominantes locais (...) encontravam, no âmago do Estado, nichos de acomodação confortáveis o suficiente para dispersar os vôos separatistas.

A guisa de conclusão, o livro de Miriam Dolhnikoff ajuda a revelar a História do Brasil como a história das elites que lutam para a manutenção de uma ordem favorável a si próprias, manipulando quando necessário, corrompendo quando necessário, forjando e destruindo alianças quando necessário. O Brasil atual é produto de sua História e não nega suas origens, sendo ainda um país de elites engajadas em projetos de autopreservação, cujo alcance e natureza muitas vezes não se percebe, seja pela proximidade de seus analistas com os eventos, seja pela simples alienação das camadas que se encontram mais abaixo.    

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