quinta-feira, 3 de março de 2011

Tio Petros e a Conjectura de Goldbach


A Matemática não é uma ciência que vá muito com a minha cara. Nem eu com a dela, por isso estamos quites. Ela me proporcionou alguns dos mais angustiantes momentos da minha vida escolar. Mas não guardo rancor, desde que continuemos bem afastados. Devo confessar, porém – e vocês não sabem como isso me dói – que uma das mais agradáveis leituras que fiz esse ano tinha a dita cuja como tema. O nome do livro:Tio Petros e a Conjectura de Goldbach.

Passei várias vezes por ele na prateleira da biblioteca, sempre torcendo o nariz quando lia seu subtítulo, “um romance sobre os desafios da Matemática.” Argh, eu pensava, e largava de volta o coitado lá sem dar nenhuma chance de defesa.

Eis que num belo fim de tarde, sofrendo de síndrome de abstinência da leitura, resolvi arriscar. Que mal faria, não é mesmo?

Para minha surpresa, me vi preso ao romance por dois dias seguidos. O livro conta a história de um jovem grego -- não nomeado -- que se interessa cada vez mais em desvendar o passado de um excêntrico tio, tido pelos irmãos como um fracassado de quem se deve manter distância. Ao descobrir que o tio (o Petros do título) fora um grande matemático, decide também ingressar na carreira, esperando a benção deste. Após aprender a lidar com a frieza de Petros, o rapaz começa a desvendar seu passado e descobre que tio fora um dos mais brilhantes matemáticos do século, contemporâneo e colega de Hardy, Littlewood e Turing, presentes na história. Sua meta era ser um novo Arquimedes. Para tanto, ele dedicou a vida a resolver um dos grandes mistérios dos números, a Conjectura de Goldbach.

Mas o que diabos vem a ser a Conjectura de Goldbach? É melhor deixar a explicação para Bernardo Esteves, da Revista Ciência Hoje (22/6/2001):

"Todos os números pares maiores que 2 são iguais à soma de dois números primos. A simples afirmativa não parece esconder um dos mais famosos e difíceis problemas não resolvidos da matemática. Quando se tenta verificar sua validade, a hipótese parece plausível: 8 = 3 + 5; 10 = 3 + 7; 12 = 5 + 7 ... Embora computadores já tenham constatado a veracidade da hipótese para números da ordem de 1014, verificações empíricas não bastam para demonstrá-la. (...) O célebre problema, conhecido como a 'conjectura de Goldbach', foi formulado em 1742 numa carta do matemático prussiano Christian Goldbach (1690-1764) ao colega suíço Leonhard Euler (1707-1783). Desde então, a hipótese tem desafiado - e derrotado - estudiosos notáveis da matemática.

Tio Petros dedica sua vida a resolução do enigma que o lançaria aos píncaros acadêmicos. Mas o que vemos é um homem que cada vez mais se desespera com a possibilidade de desperdiçar a vida com uma miragem, o que o torna cada vez mais recluso, amargo e frustrado.

Fica aí minha sugestão. Tio Petros e a Conjectura de Goldbach (Editora 34) é leve, despretensioso e divertido, com um final tão enigmático quanto a tal conjectura. Nada que vá mudar a vida de ninguém, mas, se você é como eu e vive em rota de colisão com a matemática, vai encará-la de forma mais positiva ao fechar o livro. Por uns dois ou três minutos. 

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