Mais uma antologia da editora Multifoco me chega às mãos, agora por intermédio do jovem Matheus A. Quinan, cujo blog você pode conferir aqui. O livro: Solarium 2, uma coletânea de contos de Ficção Científica editada por Frodo Oliveira. Desta vez, não será possível falar um pouquinho de cada conto. Explico: tenho o hábito, adquirido nas resenhas e fichamentos que a faculdade me exigia, de afundar em um mar de anotações rabiscadas num velho caderno. A má notícia é que os guris aqui de casa transformaram o pobrezinho numa pasta gosmenta. Babau anotações. Façamos um parágrafo de silêncio.
(...)
Pronto.
O caderno não existe mais. Eu, no entanto, tenho uma coisa ou outra pra dizer.
Solarium 2 se parece com os cadernos semestrais de departamentos acadêmicos, como a Tempo, da UFF, ou a revista Signum, dedicada aos estudos da Idade Média. A ilustração da capa, uma estranha espaçonave metálica se aproximando da Terra, é bonita. Mas parece reproduzir, com substancial ajuda das fontes selecionadas, o velho paradigma entranhado na cabeças dos leitores de fora do fandom: escapismo, clichês, falta de profundidade e irrelevância literária.
Eu realmente estou cansado desse tipo de visão. Mas como mudá-la, se até o que produzimos é um reflexo dessa percepção? Boa pergunta. Mas alguns contos da antologia sugerem que há autores iniciantes se debatendo contra o status quo. Apesar das derrapadas, como excesso de exclamações e abuso da caixa alta, o germe da forma, tão importante quanto a idéia, já começa a brotar e ser um tiquinho mais valorizada. Longe do ideal, claro, mas um bom sinal. A quantidade está aí, como mostra o levantamento de Ana Cristina Rodrigues. Agora, rumo à qualidade. E um pouco de coragem de quebrar velhos moldes.
A seguir, os contos que compõem a antologia e seus autores. Meu caderninho está fazendo falta. Rezem por sua alma pautada. A ascenção de Maya, de Ronaldo Luiz Souza; 777, de Igor Silva; A estrela cadente, de Luiz de Souza; Beta teste, de Rubem Cabral; Heliófilos, de J. Miguel; Memórias, de Frank Bacural; O último reduto, de José Geraldo Gouvêa; O E.T. Espião, de Lauro Winck; A nave dos deuses, de Emanoel Ferreira; Brincando de Deus, de Bia Machado; Herança, de Daniel Lima; Nem tudo é o que aparenta, de Henrique Weizenmann; Onda atômica, de Duda Falcão; 2109 – O Programa Titã, de Alex Lopes; A sala das garrafas, de Matheus A. Quinan; Entre o Céu e a Terra, de Jota Fox e Misael Archanjo; Les habitants du Soleil, de Cássio Michelon; O Espelho, de Rubem Cabral; Roswell, de Humberto Amaral; Aconteceu num dia quente de verão, de Luiz Mendes Jr; Experimento, de Fillipe Jardim; Manuscrito de viagem, de Jorge Eduardo Magalhães;O lado oculto da Lua, de Frodo Oliveira; O sobrevivente, de Bruno Borges; Sapiens, de Cátia Cernov.
Dos contos acima listados, destaco A ascenção de Maya. Com algumas frases a menos, Ronaldo Luiz Souza teria produzido um grande conto.
Da arte interna, destaco a ilustração da página 70, O E.T. Espião. Jota Fox e Jou Martins acertaram em cheio. Curiosamente, a ilustração da página 74 é bem fraquinha. Um bom exemplo dos altos e baixos que acometem a antologia.
Minha grande queixa em relação ao livro: letras quase impossíveis de ler de tão pequenas e apagadas, o que torna o livro muito cansativo. O nome dos autores logo acima dos títulos de cada trabalho está praticamente invisível. E a explicação do editor para isso não convenceu.
Positivo: capa agradável; contos divertidos quando arriscam ir mais além.
Negativo: fontes lavadas, parecem fotocópias; perpetuação da imagem padrão da FC como gênero menor para o público extra-fandom; abuso de exclamações e caixa alta.
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