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Filho de húngaros, Tibor Moricz é um paulistano nascido em 1959. Publicitário e escritor, publicou Síndrome de Cérbero (2007) e Fome (2008). É um dos organizadores dos dois primeiros volumes da coleção Imaginários e capitão do bem sucedido blog internacional de entrevistas ficcionais From Bar to Bar. Premiado em concursos literários, tem contos publicados em revistas virtuais e em papel. Foto: Hugo Vera. |
Prestes a lançar o romance O Peregrino- Em Busca das Crianças Perdidas, o high plains drifter Tibor Moricz aceitou baixar o Colt e responder algumas perguntas sob o sol do meio dia.
Vamos lá, então.
Cilindroide: Você já disse antes que seu amor pelos livros se deve em grande parte à sua mãe, grande leitora. É possível ter uma relação forte com a Literatura sem necessariamente se arriscar a escrever? Por que você se arrisca?
Tibor Moricz: Minha mãe foi a principal responsável por ter me feito gostar dos livros. Foi com ela que fiz meus primeiros contatos com Agatha Christie, Rex Stout, Patrícia Highsmith, Dashiel Hammet, Raymond Chandler, George Simenon e Erle Stanley Gardner. Fã que era do gênero policial é normal que me fizesse um fã também. Seguiram-se Iam Fleming e John Le Carré em livros de espionagem e todos os grandes em Ficção Científica. Mas minha relação com a literatura, apesar disso, nunca foi tão forte. Sou sazonal, às vezes mergulhando em leituras, às vezes abandonado-as por longos períodos. Fico três, quatro, cinco meses sem tocar num único livro, sem constrangimentos nem arrependimentos. Estendo isso como uma espécie de afastamento terapêutico. Ser escritor é uma consequência advinda do gosto da leitura com um talento natural, tão necessário para escrever (não me venham com as cantilenas de que basta aprender técnica literária para qualquer um virar escritor. Isso é deslavada mentira). Arrisco-me a escrever porque sou bom nisso. Se não fosse, com o bom senso que julgo possuir, estaria fazendo qualquer outra coisa.
Cilindroide: Qual é o seu ritmo médio de produção, se podemos dizer assim? Há diferenças na hora de se organizar para escrever um conto ou um romance?
Tibor Moricz: Há alguns anos, quando iniciei, eu era mais disciplinado do que agora. Escrevia todos os dias, regularmente. Hoje entendo que escrever é, sobretudo, um ato de prazer e como tal, deve ser vivenciado sem que se transforme numa obrigação. Assim, escrevo quando me dá na bola, quando me dá coceira, ou quando surge (às vezes nem assim) uma grande ideia. Escrever um conto ou escrever um romance não altera minha rotina organizacional. Ambos têm linguagens e abordagens diferenciadas, mas nada que me obrigue a elaborados exercícios mentais. Existem compartimentos em meu cérebro voltados para cada gênero, para cada extensão. Trata-se de abrir a porta certa na hora certa.
Cilindroide: Falando de organização, entremos na questão dos rótulos, definições e afins. Você enxerga algum tipo de fronteira entre a Literatura de Gênero e o chamado Mainstream, além das alegadas preocupações (ou falta dela) com a Forma?
Tibor Moricz: Além do fato de a literatura de gênero (e aqui me refiro especificamente à FC) ser essencialmente especulativa e a literatura mainstream ser essencialmente cotidiana, nenhuma diferença além da preocupação com a forma. Ambas são linguagem.
Cilindroide: Como conciliar Forma e Gênero?
Tibor Moricz: Não vejo nenhuma dissociação entre eles. Existem escritores diferentes, com capacidades diferentes, com interesses diferentes, com talentos diferenciados. Escrever é, acima de tudo, fazer-se entender. Para isso é necessário que se atente pela norma culta, que conheça técnicas literárias (e as utilize com competência). Quem gosta de vomitar o texto no papel (e temos muitos fazendo isso) sem outra preocupação senão escrever uma história mirabolante, não é escritor. É nada.
Cilindroide: Tibor Moricz é um autor de Gênero?
Tibor Moricz: Tibor Moricz é um autor extragêneros.
Cilindroide: Existe espaço para experimentalismos – e não me refiro apenas à linguagem, mas também a estruturas diferentes – na Literatura Especulativa nacional?
Tibor Moricz: Existe espaço para tudo, desde que existam leitores para tudo. Eu não gosto, já que entendo a literatura de gênero como uma literatura popular, para ser lida por muitos. Experimentalismos herméticos afastam esses leitores e descaracterizam a mais básica essência do gênero.
Cilindroide: Entrando no assunto de mercado... Não sei se é só comigo, mas muitos posts no É só outro blogue me passam a impressão de que você ainda está desconfiado com o boom da Ficção Especulativa por estas bandas. O que há para comemorar e o que há para temer, em sua opinião?
Tibor Moricz: Devemos comemorar o boom e devemos temê-lo. Por um lado temos um alargamento de publicações nunca antes visto, por outro uma fronteira não muito distante que pode brecar essa expansão. Refiro-me à fronteira formada por leitores reais. Uma hora atingiremos algum tipo de saturação, quando as publicações chegarão ao seu limite de mercado. Para evitar isso precisaríamos ultrapassar essa fronteira, buscando leitores potenciais para além dela. Com ações de marketing, com presença na mídia, com apoio de entidades e associações (tô viajando... rs), com o reconhecimento do establishment e com obras de reconhecida qualidade editorial. Há muita coisa sendo lançada que não ultrapassará a curva do rio.
Cilindroide: Como surgiu a ideia para suas entrevistas insólitas, De Bar em Bar? Por que uma versão em inglês? Tem sido difícil entrar em contato com os escritores estrangeiros?
Tibor Moricz: Nem sei dizer como surgiu a ideia de fazer as entrevistas ficcionais do De Bar em Bar. Juro que não lembro. Mas foi um sucesso tão grande que não havia como mantê-lo preso à nossa fronteira. Apesar das críticas recebidas por alguns que viam o formato como uma bobagem, essas entrevistas ganharam o mundo. Foi Adriano Fromer Piazzi que levantou a bola em estender o formato para autores internacionais ao oferecer Kim Newman. Eu soube na hora que se essa entrevista desse certo deveria continuar entrevistando autores consagrados lá de fora para não perder o bonde. Fazer contato com eles foi complicado no início, quando não me conheciam nem entendiam direito o que era esse negócio de From Bar to Bar. Hoje tenho fácil acesso a qualquer um. Muitos autores entrevistados oferecem o contato de outros, facilitando o meu trabalho.
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Foto gentilmente surrupiada daqui. |
Cilindroide: Fale um pouco sobre seu novo romance, O Peregrino. O que os leitores podem esperar dele?
Tibor Moricz: Podem esperar, no mínimo, uma muito boa leitura. O Peregrino é um romance que nasceu para ser conto. A porta do compartimento que abri em meu cérebro foi a do conto. Entrei nele, vasculhei, peguei as ferramentas que necessitava e saí de lá com um romance nas mãos. Não me peça explicações porque nem eu as tenho... rs. Tentei criar um personagem com carisma, tentei escrever uma história page-turner, tentei ser elaborado na trama, tentei um desenvolvimento criativo, tentei completar todos os ciclos de maneira surpreendente e tenho certeza de que consegui tudo isso. Foi um livro que me deu imenso prazer em escrever e me provocou um período de depressão quando o terminei. Não queria terminá-lo. Mas quando vi que ele nunca acaba e nunca acabará, voltei a ficar feliz.
Cilindroide: Por que um western? Gosta do gênero? Assistiu algum enquanto escrevia?
Tibor Moricz: Quando comecei a escrever não tinha nada na mente senão ir colocando no papel as ideias como elas me surgiam. Só fui decidir pelo caminho do western mais tarde, quando a história chegou num ponto “X” que exigia uma definição de gênero. Então enfiei um Colt45 lá e toquei o bonde pra frente. (O último western legítimo que assisti foi Tombstone há uns 4 anos... oh, bem, assisti recentemente Jonah Hex, mas aí é uma fantasia, certo?).
Cilindroide: Planeja se aventurar outra vez no universo d’O Peregrino? Steampunk e Weird West são gêneros em ascensão entre os leitores brasileiros...
Tibor Moricz: O Peregrino não admite novas aventuras e os leitores se darão conta disso quando o lerem. Mas não afasto a possibilidade de, futuramente, adentrar o terreno do western novamente.
Cilindroide: O que podemos esperar de Tibor Moricz após O Peregrino?
Tibor Moricz: Tenho três projetos em andamento. Um de Terror, um de Fantasia Urbana e um de FC. Todos eles romances. O de FC sai primeiro, o de Fantasia Urbana logo em seguida (aqui me refiro a meses, quatro ou cinco, no máximo).
Cilindroide: Previsão para Brinquedos Mortais?
Tibor Moricz: Nem ideia. Mas acredito que entre junho e agosto. Está nas mãos da editora. O Erick sabe o que faz (e, principalmente, sabe onde lhe aperta o calo...rs).
Cilindroide: Conselho de Tibor Moricz para quem também se arrisca na escrita:
Tibor Moricz: Não se arrisque na escrita.
Cilindroide: Muito obrigado, Tibor. Que venha o Peregrino, então.
Tibor Moricz: Eu é que agradeço por essa entrevista. Se não gostar do livro, o Erick te devolve a grana (e um tiro de Colt45, também, de brinde)...rs.
O PEREGRINO - EM BUSCA DAS CRIANÇAS PERDIDAS
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Não é a cara daquele sujeito que dirigiu Menina de Ouro, com a Hillary Swank? |
O romance O Peregrino – Em busca das crianças perdidas, de Tibor Moricz, fala de duelos heroicos, amizade e coragem. Fala também de cobiça, ódio e perseguição. Narra a jornada de um homem em busca de crianças perdidas, de pistas para esclarecer seu passado misterioso e de suas próprias e assustadoras verdades.
Para lá do Posto de trocas do Finnegan, para lá da Garganta do enlouquecido (muito cuidado aos que forem atravessá-la), existem três cidades. Em duas, Downtown e Middletown, os cidadãos vivem massacrados pelo jugo totalitário imposto por Uptown, a terceira delas.
De Uptown vêm abutres terríveis, delegados simbiontes mortíferos e fantásticos mecanismos cujas funções extrapolam a mais fértil imaginação.
Só uma coisa une todas as cidades: a crença na vinda de um homem, na vinda de um salvador. A crença na vinda do Peregrino.
Ambientado no meio oeste norte americano nos idos de 1870, este romance promete tudo, menos tédio. Com ritmo narrativo intenso e final surpreendente, O Peregrino tem tudo para ser um dos principais lançamentos do ano dentro da literatura de gênero nacional.
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